Notas de aula: Análise do Discurso

Anotações em cima de uma mesa

Neste post, compartilho as minhas anotações das aulas da disciplina Análise do Discurso, da Uninter. Não se trata de uma transcrição do material, mas da minha interpretação e organização do que foi estudado. Gosto muito de escrever notas para fixar o conteúdo e pensei em torná-las públicas com o intuito de ajudar outros estudantes, sejam ou não da Uninter, interessados no tema!

Como também sou estudante e ainda estou aprendendo o tema, peço que não tomem minhas notas como fonte definitiva de informação. Sempre que possível, consultem fontes primárias. Para ajudá-los, incluí no final do post uma lista de referências com algumas sugestões de leitura sobre o tema.

Surgimento e objeto de estudo

Há diversas noções sobre a língua e, em decorrência, múltiplas maneiras de estudá-la e de estudar a linguagem (Quadros; Jovino; Muniz, 2020). A Análise do Discurso (AD) é uma área relativamente nova dos estudos linguísticos, que vem ganhando espaço nos últimos cinquenta anos. Ela compreende a língua como um sistema usado para a comunicação e formado a partir de elementos fonéticos, fonológicos, morfológicos e sintáticos (Santos, aula 1). Diferentemente de Saussure, não entende a língua como um sistema abstrato, pois a estuda inserida no mundo e as produções de sentido e significado a partir dela (Orlandi, 2002 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020). Os pesquisadores da AD mudaram o foco do estudo da língua para o estudo do discurso, compreendendo este último como algo mutável e dinâmico e como ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos (Quadros; Jovino; Muniz, 2020; Santos, aula 1).

É possível traçar alguns antecedentes históricos para a AD, como a semântica histórica, no século XIX, e os estudos dos formalistas russos em 1920 e 30 (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Em 1952 houve a publicação de Discouse analysis, de Zellig Harris, um livro fundamental para a AD estadunidense. No entanto, a linha dos Estados Unidos difere da europeia, pois o trabalho de Harris analisava o discurso em uma oração/frase e não de um texto, o que seria a marca da AD francesa, por exemplo (Santos, aula 2).

Sendo assim, considera-se a década de 1960 como o marco inicial da AD, uma vez que surgiram autores bastante importantes como Roman Jakobson (1963), um formalista russo, e o autor francês Benveniste (1966) (Santos, aula 1). A década de 1960 também foi marcada historicamente como um momento político efervescente na França, sobretudo maio de 1968, com as manifestações de rua, que começou com alunos de uma universidade pedindo melhorias no ensino e isso se expandiu para outros grupos. Essas manifestações trouxeram grandes mudanças para os estudos discursivos. Deram origem a reflexões teóricas nas universidades francesas e surgiram a sociolinguística, a linguística textual e estudos diversos sobre texto e discurso (Santos, aula 3).

Vale ressaltar que alguns teóricos se referem à AD como “análises do discurso”, no plural, por existirem múltiplas linhas e abordagens com diferenças entre si. Há, por exemplo, a AD de Michel Pêcheux, que originou a AD francesa, há a Análise Crítica do Discurso/Análise do Discurso Crítica (ACD/ADC), há a AD do círculo de Bakhtin, a teoria enunciativa de Benveniste e diversas linhas da semiótica (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Influências teóricas

Áreas do conhecimento

Conforme Quadros, Jovino e Muniz (2020) a Análise do Discurso é criada a partir de três bases:

  • Linguística: com a noção de que a linguagem não é transparente e comporta múltiplas leituras e interpretações;
  • Marxismo: e o conceito de ideologia e do entendimento de que há uma desigualdade nas relações de poder e na própria língua;
  • Psicanálise: e o deslocamento da noção de homem da razão para a noção de sujeito constituído na relação com o simbólico, isto é, o campo da linguagem.
    Ou seja, ela tem como fundamento a compreensão de que o sujeito é afetado pela língua, que é marcada e constituída socio-historicamente e que esse sujeito não tem controle do modo como a língua se constitui e o afeta, sendo atravessado em seu uso da língua pelo inconsciente e pela ideologia.
    E isso produziu uma ruptura com a linguística do século XIX, norteada por outras bases (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Pragmática: a pragmática é um campo da linguística que tem raízes na filosofia. Ela estuda os sentidos do discurso conforme seu contexto de uso e não inclui apenas as noções de discurso e enunciação, mas também a de argumentação e questões exteriores aos sujeitos. Seus expoentes mais importantes são os filósofos ingleses John Austin e H. P. Grice. Suas diretrizes fundamentam-se no Curso de linguística geral, de Saussure, e os principais conceitos são:

  1. Ato de fala: não apenas representa algo, mas realiza uma ação no mundo por meio da fala.
  2. Texto: é a situação em que os atos de fala ocorrem, o contexto, que engloba o local, as pessoas envolvidas, o tempo etc.
  3. Desempenho: atualização da competência dos falantes (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Áreas afins à AD

  • Ciências da linguagem
  • História das ideias linguísticas
  • Semântica
  • Filosofia da linguagem
  • Pragmática
  • Linguística textual
  • Disciplinas das ciências humanas e sociais em geral (psicanálise, história e filosofia) (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Teóricos

Bakhtin: foi um filósofo russo, crítico literário e seu principal objeto de estudo é o dialogismo, a relação dialógica entre locutor e interlocutor. É nessa relação que a língua existe e se constitui, mas esse processo é condicionado aos gêneros discursivos. Nós nos comunicamos aos gêneros discursivos (Santos, aula 2). Os trabalhos de Bakhtin dão fundamento à análise dialógica do discurso (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Émile Benveniste: teórico francês, sua teoria enunciativa auxiliou na construção do campo da AD e dialoga com ele. Benveniste considera que a enunciação é o ato de produzir um enunciado, não confundindo-se com ele e sendo atravessada pela relação do produtor do enunciado com a língua, o que marcará sua voz (do locutor) (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Michel Foucault: discute a temática do discurso e do poder. Produziu suas principais obras nas décadas de 1960 e 197 e está incluído dentro da AD de linha francesa, dialogando criticamente com os conceitos psicanalíticos. Para ele, os poderes não estão em um ponto específico da estrutura social, mas funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos que abarcam a todos (Santos, aula 2). Ele considerava que as relações de poder, bem como as práticas sociais, se constituem no discurso, que seria o espaço onde saber e poder se articulam. O discurso geraria o poder e este seria poder de se manter enquanto discurso dominante (Santos, aula 3). Foucault também compreende o discurso como um conjunto de enunciados que apresenta uma regularidade em sua formação discursiva, isto é, que há campos discursivos que produzem discursos com características específicas. Ele foi influenciado por áreas como psicologia, filosofia e história e estudava a constituicção histórica das ciências humanas e as relações de poder e de saber (Santos, aula 3).

Dominique Maingueneau: sustenta que é preciso estudar a articulação entre o que é próprio do discurso – a atividade enunciativa – e o que é externo a ele, constituindo e representando o mundo, pois, ainda que sejam elementos distintos, estão conectados e se influenciando mutuamente. Ele dá sustento à análise semiolinguística do discurso (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Pêcheux: para ele o discurso seria uma das formas de materialidade das ideologias. Foi influenciado pelo marxismo no que concerne os temas da ideologia e da luta de classes e pela linguística, realizando uma releitura dos estudos de Saussure e pesquisando a influência da memória no discurso. Ele foi o criador do termo “materialidade discursiva“, que consiste em uma forma de olhar que busca a compreensão dos modos de constituição do discurso com uma confluência entre uma memória discursiva à qual o discurso se remete e a atualidade na qual o discurso se passa (Santos, aula 3).

Patrick Charadeau: teórico de uma linha mais recente, tem conexão com o Brasil e já esteve aqui dando palestras. É o criador da teoria semiolinguística. Para ele, signos são representações simbólicas que se desenvolvem na humanidade há séculos. Todo ato comunicativo envolve uma representação de papéis e condições e valores simbólicos dessas representações que vão sendo estabelecidas. Também cunhou a noção dos sujeitos da linguagem, o sujeito comunicante e o sujeito destinatário. O sujeito comunicante se preocupa com o ato comunicativo na totalidade, pois considera as situações do interlocutor e projeta nele um papel, interpretando também as consequências e recepção daquilo que fala (Santos, aula 3).

No Brasil

No Brasil, a pesquisadora Eni Pucinelli Orlandi foi uma das pioneiras nos estudos da AD. A pesquisadora Beth Brait também está bastante ligada ao início da AD no Brasil (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Conceitos fundamentais

Enunciado e enunciação

São conceitos diferentes, mas intrinsecamente ligados, uma vez que não existe enunciado sem enunciação. Enunciar é um verbo carregado de representações discursivas, por isso difere-se do “falar”, que é mais técnico (Santos, aula 1). Os conceitos de enunciado e enunciação estão presentes de diferentes formas nas formulações de Bakhtin, Benveniste, Maingueneau e John Austin (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Sujeito e enunciador

Ambos estão relacionados à ideia de produtor do texto. O sujeito da linguagem é o sujeito social, atravessado pela ideologia e representando um papel na sociedade. Há algumas categorias associadas:

  • Autor – Texto
  • Sujeito – Discurso
  • Enunciador – Enunciação (Santos, aula 1)

Louis Althusser compreende o sujeito como o indivíduo interpelado pela ideologia e que, a partir dela, produz sentidos e significados para si e para seu contexto social (Silva, 2005 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Foucault entende o sujeito como as múltiplas possibilidades de um indivíduo manifestar subjetividades por meio de enunciados. O sujeito seria um espaço vazio que pode ser preenchido pela linguagem de diferentes formas (Silva, 2005 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Pêcheux entende o sujeito como representante de determinados lugares na estrutura social (Silva, 2005 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Discurso

Enquanto a concepção tradicional da linguística sobre o discurso compreende o receptor como passivo, a AD entende que não há separação entre emissor e receptor, que o processo de falar e receber não é linear nem consiste apenas em uma transmissão de informação por meio da língua, que seria apenas um código. Falar e ouvir é um processo simultâneo no qual existe uma produção de sentidos que envolve tanto o emissor quanto o receptor, entendidos então como locutores, bem como o contexto no qual o discurso se passa (Orlandi, 2002 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Conforme Quadros, Jovino e Muniz (2020), há três conceitos que a AD adota para se pensar o discurso e suas condições de produção:

  1. Relações de forma: que é a compreensão de que o lugar de onde o sujeito fala constitui aquilo que ele fala, influencia no que é dito e no modo como é dito.
  2. Relações de sentido: segundo a qual os discursos se relacionam, referenciando-se entre si, um discurso é construído por outros discursos, não há discurso isolado, há uma memória discursiva pré-construída (Santos, aula 2).
  3. Mecanismos de antecipação: o sujeito antecipa o modo como o interlocutor ouvirá suas palavras e regula seu discurso a partir disso.
    Esses elementos constituem as formações imaginárias, que permitem que situações empíricas sejam transformadas em discurso sob os mais variados gêneros: fala, escrita etc.

O discurso contém fragmentos de posicionamentos ideológicos (Santos, aula 1).

Texto e discurso

A Linguística Textual (LT) e a Análise do Discurso têm uma relação de proximidade epistemológica. Ambas compartilham a noção de língua como uma atividade sociocognitiva e a entendem a cognição como tendo um importante papel no modo de concepção da linguagem. Também entendem a língua como prática social, na medida em que ela consiste em um modo de agir sobre o mundo. Dessa forma, a língua seria uma ação, e não um produto, realizando-se na interação entre sujeitos que são determinados e situados sócio-historicamente. As possibilidades linguísticas são determinadas pelo contexto histórico e social. Também partilham a noção de sujeito do campo da pragmática (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Embora “texto” e “discurso” não signifiquem a mesma coisa, ambos estão intrinsecamente iligados, de modo que é difícil falar sobre um sem mencionar o outro (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).
A principal distinção é metodológica, não conceitual. Enquanto nas teorias discursivas parte-se do dito para o texto, nas teorias textuais ocorreria o oposto. Dessa forma, o sentido existiria a priori nas teorias discursivas, preexistindo o texto, enquanto nas teorias textuais ele seria construído a posteriori, em conjunto com a situação sócio-histórica do produtor e interlocutor.

Interdiscursividade e intertextualidade

Intertextualidade: são diálogos ou vínculos estabelecidos entre textos. Temos a intertextualidade em forma de conteúdoexplícita ou com textos próprios ou sem autoria específica. Há dois tipos de heterogeneidade nas relações intertextuais e interdiscursivas: mostrada e constitutiva. A primeira é a presença de um outro discurso que pode ser identificado, enquanto a segunda ocorre quando há um diálogo interno que não vem do exterior (Marcuschi, 2008 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020) A intertextualidade permite relacionar discursos entre si e é elemento produtor de coerência textual (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Interdiscursividade: corresponde aos discursos presentes nos textos que têm relações intertextuais com outros textos (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Ideologia

A ideologia pode ser entendida de diferentes formas, sobretudo conforme a teoria da qual se parte. A perspectiva marxista, por exemplo, concebe-a atravessada pela ideia de dominação. Mas também podemos compreendê-la como uma visão de mundo. A ideologia é inseparável da realidade social. Implica em uma interpretação, em imagens e em representações do vínculo social (Santos, aula 1).

Análise do Discurso e leitura

A leitura é um gesto de interpretação. a nossa capacidade de parafrasear reflete a polissemia implicada na leitura e ela é resultado do processo de leitura e interpretação (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

A análise do discurso tem uma visão ampla do termo “leitura”, abarcando a noção de visão de mundo, um sentido acadêmico (de aproximação com o texto/autor) e a escolarização (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Para Orlandi (2002 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020) a leitura é uma questão de historicidade. Isto é, os dizeres estão sempre em relação entre si e não há início nem fim absolutos para o discurso.

Há muitas formas diferentes de se relacionar com o texto, cada qual dependendo de uma perspectiva adotada. Pensando no texto e seu autor, podemos nos questionar o que o autor quis dizer. Pensando no texto em relação a outros textos, podemos nos perguntar sobre a diferença entre eles. No texto e no referente, o que ele diz sobre determinado conteúdo e no texto em relação ao leitor, o que entendemos do texto. Além disso, também precisamos considerar o que está implícito no texto, ou seja, é muito importante promover uma leitura aprofundada (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

O que podemos identificar durante uma leitura interpretativa a carga semântica, a carga histórica e a carga ideológica do vocabulário e dos discursos. Também é importante sabermos identificar a intertextualidade, o uso de metáforas e demais figuras de linguagem. (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

É possível realizar dois tipos de leitura: a parafrásica, que consiste em encontrar o sentido do texto dado pelo autor e a polissêmica, que consiste em pensar os múltiplos sentidos do texto (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Apesar da existência de múltiplas leituras possíveis, não vale qualquer leitura, pois ela precisa ser autorizada pelo texto. É preciso preservar a unidade de sentido do texto (Quadros; Jovino; Muniz, 2020). Para Orlandi (2012 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020) a referência à história nos ajuda a identificar se uma interpretação está correta ou não, se é possível ou não, pois os textos estão determinados historicamente.

Sobre a temática da leitura e sua compreensão/interpretação, Bakhtin cunhou o termo intercompreensão que preconiza que autor, texto e leitor devem intercompreenderem-se para que haja verdadeira compreensão (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Análise do discurso crítica (ADC)

Os estudos críticos do discurso surgiram a partir da década de 1990 e estão em ascensão no Brasil devido à urgência das questões sociais. Ajudam a pensar temas como: racismo, machismo, exclusão social, manipulação institucional, violência, identidade, identidade de gênero (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

São herdeiros da Linguística Crítica (Van Dijk), vertente da teoria social do discurso, com a percepção da linguagem como um fato social. Começaram em 1979 com Roger Fowler e Guther Kress, ambos influenciados por pesquisas da teoria crítica ligada a Michel Foucault e Antonio Gramsci (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Os estudos críticos tem como objeto de estudo o discurso e o contexto social e partem da perspectiva de que a linguagem constrói fenômenos sociais (Pereira, 2011 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020). O vocabulário presente nos discursos é considerado fundamental para identificar os temas tratados e como são representados. Os ECD consideram que a luta pela hegemonia ocorre na linguagem e pela linguagem, de modo que o discurso influencia e ao mesmo tempo é influenciado pela estrutura social (Sales, 2012 apud Quadros; Jovino; Muniz, 2020). Sendo assim, a prática discursiva pode contribuir tanto para reproduzir quanto para transformar a sociedade (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

As principais características das pesquisas críticas são:

  • O estudo das relações de dominação de poder;
  • A análise das experiências de membros dos grupos dominantes para avaliar o discurso desses grupos;
  • Evidenciar que as ações discursivas dos grupos dominantes não são legítimas;
  • A formulação de alternativas aos discursos dominantes ainda compatíveis com seus interesses (Santos, aula 2).

Não podemos considerar a AD e ADC como intercambiáveis, pois se fundamentam em conhecimentos com premissas diferentes. A ADC preocupa-se muito mais com o exercício do poder que ocorre nas relações sociais, buscando posicionar suas pesquisas como resistência à opressão social (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Teóricos

Normal Fairclough (linguística sistêmica funcional e sociologia): desenvolve o modelo tridimensional do discurso. Segundo ele, o discurso tem três dimensões: texto<prática discursiva<prática social. O texto seria a parte mais material do discurso, já a prática discursiva estaria relacionada à produção/constituição do texto e à sua recepção, enquanto a prática social estaria relacionada à interpretação/questões ideológicas (Santos, aula 4).
O foco da pesquisa de Fairclough recai no novo capitalismo e na economia globalizada. Preocupa-se com práticas sociais: atividade produtiva, meios de produção, relações sociais, valores culturais, consciência e semiose (esta última relacionada à construção de sentidos e significados sobre as coisas). Alguns de seus procedimentos são: a identificação dos obstáculos para a resolução do problema por meio da análise da rede de práticas na qual ele está inserido, bem como as relações de semiose implicadas nas práticas; A análise o discurso, de suas semioses e estrutura pelas perspectivas interacional, interdiscursiva e linguística e semiótica; a avaliação se a rede de práticas seria ou não um problema, a identificação de formas de superar os obstáculos e a reflexão crítica sobre a própria análise feita (Santos, aula 4).

Van Dijk (linguística textual e psicologia social): autor holandês, bastante atual, que se preocupa com questões de dominação. Sua teoria é baseada na triangulação entre discurso, cognição e sociedade. Ele entende que há um jogo entre representações sociais e o uso individual dessas representações, e representações e seu uso se influenciam mutuamente (Santos, aula 4).
Para ele há múltiplas maneiras de se estudar as estruturas e estratégias da escrita e da fala, como a análise gramatical, pragmática (por meio dos atos de fala e comunicativos), retórica, estilística, de estruturas específicas (os gêneros), conversacional e semiótica (Santos, aula 4).
Ainda segundo o autor, para que uma pesquisa seja considerada crítica ela deve estudar as relações de dominação, as experiências dos grupos dominados, avaliando o discurso dominante, mostrar a ilegitimidade das ações dos grupos dominantes e formular alternativas viáveis que sejam compatíveis com os interesses dos grupos dominantes (Santos, aula 4).

Ruth Wodak (linguística textual e psicologia social).

No Brasil Maria Isabel Magalhães é uma das maiores representantes da ADC e essa abordagem encontra-se fundamentalmente ligada à pragmática, sobretudo na vertente austiniana (no que concerne o conceito de performatividade), devido à concepção do discurso como uma prática/ação (Quadros; Jovino; Muniz, 2020).

Indicações de leitura

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: WFM Martins Fontes, 2011.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.

BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. Tradução de M. G. Novak e L. Neri. São Paulo: Companhia Editora Nacional; EDUSP, 1966.

BORGES NETO, J. Ensaios de filosofia da linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

BRANDÃO, H. H. N. Análise do discurso: um itinerário histórico. In: PEREIRA, H.B.C.; ATIK, M. L. G. (Org.). Língua, Literatura e Cultura em Diálogo. São Paulo: Mackenzie, 2003.

BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. 3. ed. rev. Campinas: Editora da Unicamp, 2012.

MAZIÈRE, F. Análise do discurso: história e prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BRITO, L. A. N. de (Re)lendo Michel Pêcheux: como a análise do discurso de linha francesa apreende a materialidade discursiva? Eutomia, Recife, p. 542-562, jul. 2012.

CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. Coordenação da equipe de tradução: Angela M. S. Corrêa e Ida Lúcia Machado. 2. ed. 1. reimpr. São Paulo: Contexto, 2012.

CORRÊA-ROSADO, L. C. Teoria semiolinguística: alguns pressupostos. Revista Memento, v. 5, n. 2, p. 1-18, jun./dez. 2014.

FAIRCLOUGH, N. Análise do discurso e análise crítica do discurso: desdobramentos e intersecções. Tradução: Iran Ferreira Melo. Letra Magna, v. 5, n. 11, p. 1-18, 2. sem. 2009.

FARACO, C. A. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

FIORIN, L. F. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Tradução Luiz Felipe Baeta Neves. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013a.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização, introdução e revisão de Roberto Machado. 27. ed. São Paulo: Graal, 2013b.

GADET, F.; HAK, T. Por uma análise automática do discurso … 2010.

GUIMARÃES, C. P. Análise crítica do discurso: reflexão sobre contexto em van Dijk e Fairclough. Eutomia: Revista de Literatura e Linguística, Recife, v. 1, n. 9, 438-457, jul. 2012.

MAINGUENEAU, D. Cenas da enunciação. 2008. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

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VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017.

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Referências

SANTOS, Jovina Maria Perin dos (2025). Anotações de aula.

QUADROS, Daiane Franciele Morais de; JOVINO, Ioven da Silva; MUNIZ, Kassandra da Silva. Introdução à análise do discurso: perspectivas teórico-práticas. Curitiba: InterSaberes, 2020.


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