Resenha: A inconveniente loja de conveniência – Kim Ho-Yeon

Foto de um livro sobre a mesa com o título A inconveniente loja de conveniência

A história

A inconveniente loja de conveniência narra a história de Dok-go, um homem em situação de rua que sofre de amnésia e vive na Estação de Seul. Sua vida muda inesperadamente ao cruzar o caminho da senhora Yeom, dona de uma loja de conveniência. Após encontrar e devolver os documentos perdidos dela, Dok-go conquista sua gratidão e afeição. Como forma de retribuição, a senhora passa a ajudá-lo e, depois de ele impedir um assalto à loja, decide contratá-lo como funcionário noturno.

O passado misterioso de Dok-go e sua condição anterior despertam desconfiança nos funcionários e no filho da senhora Yeom, que deseja vender o estabelecimento e vê o recém-funcionário como uma ameaça. Contudo, Dok-go se revela um homem gentil e cuidadoso, transformando a loja em um porto seguro para aqueles que, como ele, carregam cicatrizes invisíveis. A cada capítulo, acompanhamos suas interações com diferentes personagens – sejam colegas de trabalho ou clientes – e vemos como suas boas ações geram mudanças transformadoras enquanto desvendamos os segredos de sua própria história.

Um mergulho na cultura sul-coreana das lojas de conveniência

Você sabia que há mais lojas de conveniência na Coreia do Sul do que lojas do McDonald’s em todo o mundo! Chocante, não é?! Mas é isso que diz esta matéria da CNN Brasil, o que revela a importância desses estabelecimentos no cotidiano dos sul-coreanos.

Essas lojas ficam abertas 24 horas por dia, todos os dias da semana. Elas vendem uma variedade imensa de comidas instantâneas e prontas para comer e por isso têm micro-ondas e mesas para as pessoas fazerem suas refeições no próprio local e beberem também, acontecimentos cotidianos bastante retratados no livro A inconveniente loja de conveniência.

Na verdade, um elemento importante para o crescimento e popularização das lojas de conveniência na Coreia do Sul é a solidão crescente entre a população, bem como o ritmo acelerado da vida urbana. Cada vez menos coreanos estão se casando e formando famílias, muitos moram sozinhos. Com isso, a comida caseira, trabalhosa e mais cara de ser feita, vem sendo substituída pela conveniência das comidas instantâneas e refeições prontas.

Não me parece coincidência que a história de Dok-go se desenrole em uma loja como essa. Pessoas solitárias em busca de bebida ou refeição são os clientes perfeitos para protagonizarem uma história de transformação pessoal por meio da conexão significativa com alguém disposto a ouvi-las e ajudá-las.


Minhas impressões

Motivação da leitura

Escolhi este livro por ser do gênero ficção de cura, que conheci pelo livro Bem-vindos à livraria Hyunam-Dong e decidi que era meu novo gênero favorito depois de ler A biblioteca dos sonhos secretos. Achava que não tinha como errar com o gênero, já que ele foca em histórias de superação, é leve e aconchegante, mas, ao mesmo tempo, com abertura para reflexões profundas.

De cara, vi que este livro seria um pouco diferente dos outros, o que, em princípio, não seria algo ruim. Ele parecia mais dinâmico e com mais ação, já começa com uma cena de briga. Na orelha, a sinopse menciona que um detetive investiga a vida do protagonista, então logo fiquei curiosa porque amo histórias policiais!

Estilo narrativo e desenvolvimento da história

A narrativa começa muito bem, como mencionei, dinâmica, com uma cena de briga, várias coisas acontecendo, uma linguagem mais coloquial e bem-humorada que gostei bastante… isso criou uma expectativa em mim de que o restante da história teria esse mesmo tom, o que não aconteceu. Poxa, foi uma decepção tremenda.

Assim que Dok-go começa a trabalhar na loja de conveniência, o ritmo desacelera e fica cada vez mais lento conforme a história progride. A ação deu lugar ao cotidiano do trabalho na loja. Além disso, eu lia e lia e lia e nada da investigação. Ela só acontece no penúltimo capítulo! Mas estava lá, na sinopse, para me fazer achar que era um livro investigativo rs. Me senti enganada. E ela também foi muito breve e não acrescentou muita coisa à história.

Em princípio, nada do que descrevi seria negativo. Eu gosto de histórias que se desenvolvem lentamente, mas pela sinopse e pela abertura do livro, não era algo que eu estava esperando. Essa quebra de expectativas tornou a leitura um pouco arrastada, tanto é que demorei 3 meses para terminar de lê-lo.

Durante a leitura percebi que a narrativa acompanha a história de uma pessoa por capítulo, que tem a sua vida transformada pelo contato com o protagonista, Dok-go. Não sou fã desse formato, mas também não me incomoda. Porém, não acho que foi bem executado pelo autor. Para mim, as histórias foram muito curtas e o contato de algumas pessoas com Dok-go foi superficial para provocar uma transformação. Ao mesmo tempo, depois essas pessoas desapareciam da história, o que produziu um senso de fragmentação muito grande.

Continuei lendo porque vi muitas pessoas comentando que se emocionaram no fim, com a revelação da história do Dok-go. Resultado? Me senti insensível porque não achei nada de mais! É só nessa parte que a história ganha um pouco mais de linearidade e há um flaskback de cada encontro com cada pessoa, mas pela perspectiva do protagonista. Particularmente, eu preferiria que isso estivesse diluído ao longo da narrativa, pois acho que produziria um senso de aproximação bem maior com Dok-go, que fica um pouco apagado nos demais capítulos.

De todo modo, a leitura é leve, rápida e há, sim, momentos de aquecer o coração e de reflexão. É uma história sobre segundas chances e sobre empatia. Penso que muito do sucesso da ficção de cura tem a ver com a identificação que sentimentos com os personagens, que vivem situações semelhantes às nossas. No caso, acho que não gostei tanto porque essa não é uma temática predominante na minha vida no momento, mas, se os assuntos abordados ressoam com você, pode ser que valha a pena dar uma chance para o livro!


Ficha técnica do livro

Foto da capa do livro A inconveniente loja de conveniência

Título: A inconveniente loja de conveniência
Autor: Kim Ho-Yeon
Tradutor: Jae Hyung Woo
Editora: Bertrand
Ano: 2023
Nº de páginas: 272
Compre aqui

Nota sobre a edição

Não é sempre que comento sobre as edições dos livros por aqui, mas este com certeza merece, pois a edição é encantadora!

A capa, além de ter uma ilustração belíssima, traz o título escrito em alto-relevo, e as pétalas da cerejeira têm um acabamento brilhante que reluz conforme manuseamos o livro.

Por dentro, a edição superou as expectativas. Com uma excelente diagramação, letras grandes e uma boa margem (minha miopia agradece!), cada capítulo é introduzido por uma pequena ilustração – uma surpresa agradável.

Assim como as transformações proporcionados por Dok-go revelam-se nos pequenos gestos, são os detalhes desta edição que dão um toque especial à experiência de leitura.

Primeiro capítulo - A inconveniente loja de conveniência

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *